João Saldanha: A Trajetória Brilhante de Um Cronista e Treinador Visionário
oão Saldanha, reconhecido tanto por sua carreira como cronista esportivo quanto por seu trabalho como treinador, marcou a história do futebol brasileiro com suas opiniões fortes e sua breve, mas memorável, passagem pela Seleção Brasileira.
João Saldanha: Da Crônica ao Campo
João Saldanha é um exemplo notável de cronista que fez a transição para o papel de treinador. Nascido em 3 de julho de 1917 em Alegrete, Rio Grande do Sul, ele cresceu em Curitiba antes de se mudar para o Rio de Janeiro. Inicialmente jogador do Botafogo, Saldanha trocou os gramados pelos microfones, graduando-se em Direito e Jornalismo e começando sua carreira na Rádio Guanabara.
Saldanha e o Botafogo: Uma Parceria de Sucesso
Em 1957, o Botafogo surpreendeu a todos ao contratar João Saldanha como treinador. Sem experiência prévia na função, ele guiou o time ao título carioca naquele ano. Sua passagem como técnico durou até 1959, quando decidiu se dedicar integralmente ao jornalismo esportivo.
A Ascensão na Seleção Brasileira
Conhecido por suas opiniões contundentes e profundo entendimento do jogo, João Saldanha conquistou respeito e audiência nas rádios, televisões e jornais do Rio. Membro do Partido Comunista Brasileiro, sua nomeação como técnico da Seleção Brasileira em 1969 foi inesperada, especialmente durante o regime militar. O presidente da CBD, João Havelange, acreditava que a escolha de um jornalista poderia amenizar as críticas à seleção.
Saldanha construiu seu time com base nos melhores clubes da época - Santos, Cruzeiro e Botafogo. A formação, apelidada de "As Feras de Saldanha", incluía estrelas como Félix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel, Rildo, Piazza, Gerson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu.
O Sucesso e os Desafios
Sob a liderança de Saldanha, o Brasil teve uma campanha imbatível nas Eliminatórias, reacendendo a paixão dos torcedores pela Seleção. No entanto, seu temperamento forte atraiu conflitos. Em um incidente famoso, Saldanha ameaçou o técnico Yustrich, do Flamengo, com um revólver. Suas divergências com a comissão técnica sobre preparação física e outras questões levaram a conflitos internos.
O ponto de ruptura veio quando Saldanha recusou o pedido do presidente militar Médici para incluir Dario, o Dadá Maravilha, na seleção. Isso resultou na sua demissão pouco antes da Copa do Mundo de 1970. Com a negativa de Dino Sani para substituí-lo, Mário Jorge Lobo Zagallo assumiu e levou o Brasil ao tricampeonato mundial.
O Retorno ao Jornalismo
Após sua saída da seleção, João Saldanha voltou ao jornalismo, deixando sua marca com frases memoráveis como "o futebol brasileiro é uma coisa jogada com música". Nos últimos anos de sua vida, foi um crítico ferrenho da europeização do futebol brasileiro, lamentando a perda de características ofensivas e habilidosas do nosso jogo.
Um Legado Duradouro
Em 1985, Saldanha tentou a carreira política como candidato à vice-prefeito do Rio de Janeiro, mas sem sucesso. Mesmo debilitado nos últimos anos, ele cobriu a Copa do Mundo de 1990 pela Rede Manchete e faleceu em 12 de julho daquele ano, na Itália, fazendo o que mais amava: falando sobre futebol.
Conclusão
João Saldanha deixou um legado que transcende gerações, sendo lembrado tanto por suas análises afiadas quanto por suas contribuições como treinador. Sua trajetória é um testemunho de paixão pelo futebol e pela comunicação, inspirando muitos a seguir seus passos.